A evolução tecnológica trouxe rentabilidade aos produtores de grãos?

Pesquisador do Cepea avalia se a evolução tecnológico se reverteu, de fato, no aumento da rentabilidade dos produtores de grãos no Brasil.
O fato é que a a modernização do setor produtivo e o desenvolvimento de novas tecnologias na agricultura nas últimas décadas têm levado os produtores de grãos a conduzirem suas lavouras com as tecnologias disponíveis, principalmente as ligadas a modificações genéticas nas sementes. Dessa forma, sendo o produtor o elo mais fraco da cadeia, tomador de preços do mercado e dependente de tecnologias, teriam os caminhos tomados pelas pesquisas viabilizado a reorganização de atividades economicamente favorável aos produtores?
Tomando-se como base uma fazenda típica do oeste do Paraná e considerando-se as safras 2007/08 e 2016/17, observa-se que, de fato, determinadas escolhas dentro da propriedade – como o cultivo apenas de soja na 1ª safra, os aumentos da área na segunda safra e o uso de sementes geneticamente modificadas – resultaram em aumento na rentabilidade.
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Vale ressaltar que o período citado foi marcado pela mudança entre a baixa adoção de sementes modificadas geneticamente para um cenário de grande dependência delas e também pela alteração significativa na destinação das áreas e das culturas dentro das fazendas brasileiras.
No caso do produtor típico da região do oeste do Paraná, de 2007/08 a 2016/17, ele deixou de semear milho primeira safra, cultivando toda a área com soja (primeira safra). Além disso, esse agricultor passou a ocupar toda a área disponível na propriedade na segunda safra, especialmente com milho, mas a cultura do trigo seguiu sendo semeada em todas as temporadas, mesmo que em menor percentual de área na segunda safra.
A utilização de mais área com milho na segunda safra, por sua vez, foi possível devido à antecipação do plantio da soja na primeira safra e também ao encurtamento dos ciclos das variedades dessa oleaginosa. Este quadro permitiu que o milho pudesse ser semeado em período mais antecipado, dentro do que se chama de “janela ideal de cultivo”, reduzindo os riscos da segunda safra – mesmo apresentando alta probabilidade de rentabilidade negativa.
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Além disso, os melhores resultados obtidos por produtores de grãos também estiveram atrelados à ampliação da área de soja no verão (de maior retorno financeiro que o milho) e à elevação da produtividade, resultado do aumento da eficiência no uso de insumos ou mesmo por fatores climáticos mais favoráveis na maioria dos anos. Muitas vezes, a maior receita na primeira safra contribuiu para equilibrar ou compensar receitas líquidas negativas da segunda safra.
No entanto, o produtor não conseguiu receita total superior aos custos totais de produção em todo o período avaliado, ou seja, nem sempre o capital investido não foi remunerado como o esperado. Apesar disso, o retorno líquido (receita bruta menos custo total de produção) nos períodos mais recentes (2014/15 até 2016/17) foi maior que nos períodos iniciais (2007/08 até 2009/10). Isso mostra que o produtor está melhorando sua eficiência nas escolhas das técnicas e tecnologias ao longo das safras.
O resultado do retorno líquido nas safras mais recentes, após 2014, mostra que os produtores de grãos estão melhorando suas escolhas em relação as tecnologias usadas na produção.
Adaptado de Renato Garcia Ribeiro, Pesquisador do Cepea – cepea@usp.br e publicado no dia 30 de setembro de 2019.
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