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Consumidores sabem o que é e da importância do bem-estar animal?

Pesquisadora do LAE/USP, Cecília Mendes, fala da importância e os desafios da comunicação com o consumidor, principalmente quando se trata de bem-estar animal.

É interessante refletir sobre certos aspectos na comunicação eficaz com consumidores, que dizem respeito a como a informação sobre origem, forma de criação e abate dos animais, relacionada ao bem-estar, pode afetar atitudes e decisão de compra de produtos de origem animal.

Um relatório abrangente e esclarecedor sobre “Atitudes dos Cidadãos da União Europeia quanto ao Bem-Estar Animal”, publicado em 2007, mostrou resultados de pesquisa envolvendo mais de 29.000 pessoas.

Bem-Estar Animal (BEA) foi considerado como assunto de grande importância pela maioria dos entrevistados, que tinham certo conhecimento sobre o tema em seus países (69%), mas assumindo que era limitado. Mais ainda, 58% dos entrevistados desejavam receber mais informação sobre BEA e indicaram como fontes preferidas a televisão, internet e jornais diários.

Perguntados sobre quem possuía condições para assegurar condições de BEA, os entrevistados apontaram: produtores (40%), veterinários (26%), governos nacionais (25%) e organizações de proteção animal (24%); enquanto empresas processadoras (18%) e consumidores (11%) foram menos mencionados.

Quanto a compensação financeira para os produtores por custos possivelmente mais elevados devido a condições melhores de BEA, a maioria (72%) dos entrevistados concordou. Os consumidores declararam que a decisão de compra de produtos que respeitassem o BEA era motivada por serem produtos mais saudáveis (51%) e com alta qualidade (48%). O relatório segue, abordando perguntas sobre informação em rótulos, que seria a melhor forma de identificação do produto, e sobre normas nacionais, que demostraram evolução.

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Para acessar o relatório na íntegra: https://ec.europa.eu/commfrontoffice/publicopinion/archives/ebs/ebs_270_en.pdf

Mais recentemente, uma pesquisa extensa foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Newcastle, com o objetivo de avaliar atitudes, percepções e comportamentos dos consumidores com relação ao Bem-Estar Animal na produção. Por meio de revisão sistemática de literatura internacional, publicada durante 20 anos, Clark et al. (2016) analisaram 80 estudos.

Os resultados mostraram preocupações do público sobre BEA na produção moderna e intensiva, vista como negativa em certos aspectos. Essas preocupações foram maiores entre jovens, mulheres, pessoas com maior nível educacional, que também se demonstraram mais propensos a pagar por produtos que respeitem o bem-estar dos animais de produção. A utilidade de se promover visitas de consumidores a propriedades produtoras para esclarecer conceitos errôneos foi sugerida.

Nesse estudo, a expressão de comportamentos naturais e tratamento humanitário foram considerados pontos centrais de boas condições de Bem-Estar Animal, associados a: acesso a áreas externas e à luz natural, limpeza e espaço suficiente. Etapas externas ao campo, como transporte, abate apareceram nas respostas dos consumidores. Entretanto, os estudos revisados não abordaram atitudes quanto a doenças relacionadas à produção intensiva, que era um objetivo da pesquisa dos autores. Notou-se preocupação dos consumidores com questões de saúde humana, quanto ao uso excessivo de antibióticos na produção, associado ao aumento da resistência a antimicrobianos por micro-organismos patógenos.

No que concerne à comunicação sobre BEA, o papel de todos os envolvidos foi enfatizado pelos consumidores, sendo que o compromisso e transparência quanto a práticas adotadas ajudaria a aumentar a confiança. O governo foi grandemente responsabilizado nessa comunicação, por sua capacidade de estabelecer padrões e realizar monitoramento, por meio de legislação com critérios claros.

Para acessar este estudo na íntegra:

CLARK, B. et al. A systematic review of public attitudes, perceptions and behaviours towards production diseases associated with farm animal welfare. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, v. 29, n. 3, p. 455-478, 2016.

Pesquisadoras do LAE/USP, Laya Kannan e Eduarda Buck discutem o uso de promotores de crescimento na produção animal. Clique aqui e saiba mais do assunto!

Sobre a autora: Cecilia Mitie Ifuki Mendes é engenheira de alimentos, gerente de Assuntos Regulatórios da Korin Agricultura e Meio Ambiente, aluna do mestrado profissional em Gestão e Inovação na Indústria Animal da USP/FZEA e integrante do Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal – LAE.

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Ivan Formigoni

Zootecnista, Fundador do Farmnews e interessado em fornecer informações úteis aos nossos leitores!

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