Você sabia que a pecuária brasileira é uma das poucas que conseguem tirar carbono da atmosfera e transformá-lo em alimento?
Durante o World Meat Congress 2025, o painel “Produção Sustentável da Carne: Dinâmicas de Carbono e Metano” reuniu especialistas de três continentes para discutir o futuro climático da pecuária.
Vale lembrar que o Congresso Mundial da Carne (WMC – World Meat Congress) foi realizado no Brasil pela primeira vez, consolidando o País como referência em produção sustentável de carne. Clique aqui e saiba mais sobre o evento!
Com moderação de Caio Penido (presidente do IMAC) e participação de Dr. Ernesto Francisco Viglizzo, CONICET/INCITAP (Argentina) e Professor Michael Lee (Reino Unido), o debate trouxe uma visão inédita e pragmática sobre como o setor pode se tornar parte da solução para o aquecimento global.
1. O Brasil e o protagonismo no sequestro de carbono
Abrindo a mesa, Caio Penido apresentou a experiência brasileira como laboratório vivo de produção sustentável.
Ele lembrou que desde 2014 o país desenvolve pesquisas robustas em fazendas comerciais para mensurar o balanço de carbono no solo e nas pastagens, revelando que sistemas tropicais bem manejados podem ser carbono positivos — ou seja, sequestram mais do que emitem.
O diferencial do Brasil, explicou, está na integração entre produtividade, floresta e clima:
- O Código Florestal garante estoques legais de vegetação nativa — uma política sem paralelo no mundo;
- O clima tropical permite produção contínua de forragem o ano todo, com múltiplos ciclos de sequestro;
- E o avanço de sistemas ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) e pecuária rotacionada cria sinergia entre produção e conservação.
“A pecuária brasileira é uma das poucas que conseguem tirar carbono da atmosfera e transformá-lo em alimento. Isso é uma vantagem competitiva que o mundo ainda não entendeu totalmente”, destacou Penido.
O maior obstáculo, segundo ele, é o desmatamento ilegal, que distorce a percepção internacional e ofusca o trabalho de quem produz corretamente.
Penido lembrou que o país tem cerca de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas, cujo recuperamento pode dobrar a produtividade e sequestrar bilhões de toneladas de CO₂ equivalente.
Além disso, práticas como redução da idade de abate, melhor nutrição animal e uso de aditivos para mitigar metano podem reduzir emissões por arroba em até 30%.
2. A métrica que precisa mudar — e o risco do CO₂eq/kg
O Dr. Ernesto Francisco Viglizzo, CONICET/INCITAP, engenheiro agrônomo argentino, trouxe uma provocação: as métricas atuais estão punindo os sistemas de pasto justamente por serem mais naturais e menos industrializados.
Segundo ele, a métrica mais usada — o CO₂ equivalente por quilo de carne — é linear, incompleta e injusta, pois soma todas as emissões da cadeia (solo, insumos, transporte, embalagem) e as divide por um produto que perde massa a cada etapa.
O resultado é uma pegada artificialmente alta, comparando carne e vegetais em bases que não refletem o sistema de origem.
Piglidio defendeu um modelo sistêmico, que mede emissões e sequestros por hectare, captando o balanço real do solo e das árvores.
Estudos argentinos mostram que fazendas bem manejadas podem sequestrar entre 1 e 3 toneladas de carbono por hectare/ano, superando as emissões.
“Quando o carbono é medido por área — e não por quilo de produto —, as diferenças entre carne e soja quase desaparecem. E quando se inclui o sequestro, a carne passa a ser parte da solução”, explicou Piglidio.
Ele também sugeriu uma nova camada de análise, incorporando o valor nutricional da carne.
Proteínas de alta qualidade biológica — como as da carne bovina — são mais biodisponíveis e completas, o que significa que menos alimento é necessário para suprir a mesma quantidade de aminoácidos essenciais.
Assim, corrigir as emissões pelo valor nutricional faz a pegada da carne cair significativamente.
“As métricas ambientais devem se inspirar na medicina: olhar o organismo inteiro, e não apenas um sintoma”, afirmou.
3. Balanço de carbono e reputação: a nova fronteira da competitividade
Penido e Viglizzo, convergiram em um ponto essencial: não basta reduzir emissões, é preciso medir o balanço líquido e comunicar com precisão.
O balanço de carbono (emissões – sequestro) deve substituir as métricas brutas, porque representa o que de fato ocorre nos sistemas biológicos.
Para o presidente do IMAC, o Brasil tem a oportunidade de liderar essa mudança de narrativa, transformando dados científicos em reputação internacional:
“Precisamos parar de reagir às críticas e começar a contar a nossa própria história — com dados, métricas e orgulho do que já fazemos.”
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