O pequeno produtor muitas vezes perde na negociação porque entra no jogo cego, ao contrário do comprador!
Há um fenômeno curioso no agronegócio brasileiro: todos falam em produtividade, poucos falam em preço. E quase ninguém fala na raiz do problema — quem realmente captura valor dentro da cadeia. O resultado é que o pequeno produtor produz, trabalha, arrisca, acorda cedo, enfrenta clima, praga, oscilação de mercado… e, no final das contas, é o último da fila na hora de receber.
E aqui vai a verdade que incomoda:
O pequeno produtor não perde dinheiro porque produz pouco; ele perde dinheiro porque captura pouco.
Desintermediação, contratos inteligentes e inteligência de mercado não são conceitos de MBA. São mecanismos de sobrevivência — e de justiça econômica.
O Jogo do Preço: por que o pequeno perde antes mesmo de começar?
O Brasil é uma potência agrícola, mas o pequeno produtor vive como se estivesse sempre no intervalo entre a tragédia e o prejuízo. E isso não é culpa da “falta de capacidade”, como alguns gostam de repetir para
justificar a própria preguiça mental. O problema é sistêmico:
- o produtor não sabe seu custo real,
- não tem previsibilidade de preço,
- negocia sozinho contra compradores que conhecem o mercado inteiro,
- e continua refém da figura do atravessador — uma entidade que sobrevive apenas porque o mercado é opaco.
E mercado opaco é a mãe de todas as injustiças.
Desintermediação: o produtor com ACESSO direto ao valor
Desintermediar não significa eliminar serviços; significa eliminar abusos.
O pequeno produtor perde margem porque vende para quem paga o mínimo e compra de quem cobra o máximo. Quando se cria rota direta entre quem produz e quem compra — seja laticínio, torrefadora,
supermercado, exportador ou plataforma digital — duas coisas acontecem de imediato:
1. O produtor recebe mais.
2. O comprador paga menos.
Quem perde?
O intermediário parasitário, aquele que não agrega valor nenhum.
Quem ganha?
Todo o resto da cadeia.
Ao longo dos anos, vi cooperativas estruturando micro centrais de beneficiamento, associações construindo galpões coletivos e comunidades criando marcas próprias. Em todos esses casos, a margem aumentou sem que ninguém precisasse “produzir mais” — apenas cobrar pelo que já produzia.
Desintermediação não é tendência: é libertação.
Contratos: o antídoto contra o chantagista do preço do dia
Não existe preço justo sem previsibilidade. E não existe previsibilidade sem contrato.
O pequeno produtor brasileiro negocia como quem joga roleta russa com cinco balas no tambor. A cada safra, a mesma história: o produtor planta sem saber quanto vai receber, enquanto o comprador já sabe exatamente o que vai pagar — e como vai repassar.
Um contrato bem-feito resolve isso:
- fixa preço mínimo,
- define qualidade,
- estabelece volume,
- protege contra volatilidade,
- reduz risco para as duas partes.
E, sobretudo, tira o produtor da mão do “mercado do dia”, que só é livre para quem domina a informação.
Inteligência de mercado: quem sabe mais, lucra mais
O pequeno produtor perde negociação porque entra no jogo cego. Enquanto isso, o comprador chega com:
- histórico de preços,
- comportamento de safra,
- dados de clima,
- curva de demanda,
- e até preço futuro internacional. A informação é assimétrica.
E onde há assimetria, há exploração. Mas isso está mudando.
Nos últimos anos, conectividade rural e plataformas digitais permitiram que pequenos produtores acessassem:
- dashboards simples de preços diários,
- previsões de mercado,
- análise de tendência,
- simulações de margem,
- e até algoritmos de recomendação de venda.
E quando o produtor sabe o que está fazendo, a conversa muda de patamar.
Ele deixa de aceitar o preço imposto e passa a negociar.
Entenda uma coisa:
O preço justo não nasce da boa vontade do comprador — nasce da boa informação do vendedor.
A tríade do preço justo: os três degraus para a prosperidade
Depois de tantos anos de estrada, percebo que existem três degraus inescapáveis para que o pequeno produtor capture valor real:
1. Desintermediação estrutural
Eliminar intermediário que não agrega nada e fortalecer cadeias curtas, cooperativas, marcas coletivas, beneficiamento local e venda direta.
2. Contratos bem-feitos
Preço mínimo, entrega garantida, previsibilidade. Contrato não é papel: é armadura.
3. Inteligência de mercado acessível
Painéis simples, dados claros, informação organizada.
A informação não precisa ser sofisticada — precisa ser útil.
Conclusão: Preço justo é um direito — não uma concessão
Há quem ainda trate o pequeno produtor como figurante de um filme que gira em torno das grandes tradings e das grandes fazendas. Isso é ignorância disfarçada de visão estratégica.
O pequeno é a base — e a base só prospera quando é tratada como protagonista, e não como espectadora.
Preço justo não é favor.
Preço justo não é assistencialismo. Preço justo não é utopia.
Preço justo é design de mercado, amparado por três pilares inegociáveis:
- desintermediação para recuperar margem,
- contratos para blindar renda,
- inteligência de mercado para negociar de igual para igual.
Quando esses três elementos se alinham, a renda sobe, o risco cai e a dignidade aparece.
E um país onde o produtor tem dignidade é um país que finalmente entendeu de onde vem a sua riqueza.
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