O uso do nitrogênio na agropecuária, de herói a vilão!
Pesquisadora do LAE/USP, Vanessa Rezende, destaca a importância e os desafios do uso do nitrogênio na agropecuária.
O nitrogênio (N) está presente no ambiente terrestre em vários tipos de compostos químicos. A maior parte do N está na forma de gás, sendo este composto pouco disponível para os animais, plantas e seres humanos, o que é chamado de forma inerte ou inativa.
Os compostos nitrogenados são importantes para o crescimento de espécies vegetais e animais por ser a base de formação de proteínas e ácidos nucléicos. Grande parte dos avanços em produtividade agropecuária se deve à evolução do manejo deste nutriente na dieta dos animais ou na adubação das culturas. Locais onde há deficiência de N no solo são conhecidas por terem menor desenvolvimento e maiores índices de fome na população.
E para ressaltar a importância do uso do nitrogênio na agropecuária, dados da FAO mostram que cerca de 50% do aumento da produtividade agrícola se deve ao uso de fertilizantes, sendo o nitrogênio o principal fator limitante na agricultura.
O Brasil importa aproximadamente 64% de suas necessidades de fertilizantes nitrogenados de outros países.
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O nitrogênio se comporta no ambiente através do seu ciclo, que são reações químicas que transformam o nitrogênio atmosférico que está inativo em formas químicas ativas. A fixação do nitrogênio no solo é feita através de microrganismos e pode ser oriunda de matéria orgânica em decomposição ou através da fixação do nitrogênio atmosférico. Os fertilizantes são a forma antropogênica de adição de nutrientes ao solo, e possuem uma formulação química que tem uma rápida disponibilidade do nutriente para a planta e rápida reação química com o ambiente onde foi lançado.
Devido ao aumento da forma ativa de nitrogênio na atmosfera e pelo uso cada vez maior de fertilizantes nitrogenados, o N está sendo mais estudado em busca de entender os possíveis impactos ambientais causados pelo uso excessivo. A Figura abaixo mostra a evolução do uso de nitrogênio oriundo de fertilizantes no Brasil, no período de 2008 a 2017.
A preocupação ambiental com o nitrogênio é devido a três rotas deste nutriente no ambiente: volatilização da amônia na atmosfera, poluição de solo e lençóis freáticos por nitrato, e emissão de óxido nitroso na atmosfera através da desnitrificação. O uso excessivo de fertilizantes nitrogenados e o aumento da fixação de nitrogênio no solo tem causado eutrofização de ecossistemas terrestres, reduzindo sua biodiversidade e alterando o seu funcionamento. A eutrofização de ambientes aquáticos, incluindo a criação de ambientes com níveis críticos de oxigenação, causa a mortalidade de várias espécies aquáticas. A acidificação de solos e águas pode comprometer o crescimento de culturas e o uso destes recursos pelos seres humanos. Ocorre também a emissão de óxido nitroso para a atmosfera, que é um gás de efeito estufa, com potencial poluidor 298 vezes maior que o dióxido de carbono.
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Os efeitos do uso excessivo de nitrogênio são globais, mas ainda são algumas partes do planeta que possuem áreas contaminadas por este nutriente. Por isso, adequações nos protocolos de fertilização de culturas e manejo nutricional dos animais de produção devem ser considerados e adotados pelos segmentos da agropecuária, com o intuito de aumentar a sustentabilidade dos sistemas de produção.
Vanessa Theodoro Rezende é Médica Veterinária, professora no Centro Universitário de Caratinga e Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal pela FMVZ/USP.
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