O agronegócio brasileiro ainda é competitivo frente aos concorrentes?
O Farmnews destaca artigo de Mauro Osaki, que discute a competitividade do agronegócio brasileiro frente aos nossos concorrentes.
O agronegócio brasileiro é acompanhado e avaliado frequentemente pelos nossos concorrentes e para algumas commodities, o País deixou o papel secundário e passou a dividir o holofote com outros protagonistas.
Dentre os produtos agrícolas, a soja e o milho registraram forte crescimento mundial na última década, em que o Brasil assumiu papel fundamental para tal situação.
A produção média brasileira de soja era de 45 milhões de toneladas entre 2000 e 2002 e passou para 101,8 milhões entre 2014 e 2016, aumento de 122,2% no período. Já os EUA produziram, em média, 76,2 milhões de toneladas da oleaginosa entre 2000 e 2002, passando para 110,3 milhões de toneladas entre 2014 e 2016, elevação de 44,7%.
No caso do milho, a produção média nos EUA foi de 364 milhões de toneladas entre 2014 e 2016, incremento de 51% em relação ao triênio 2000 a 2002 (240 milhões de toneladas).
Quanto ao Brasil, a produção foi de 83 milhões de toneladas entre 2014 e 2016 contra 41 milhões de toneladas entre 2000 e 2002 – a produção brasileira dobrou nesses 16 anos.
Esses valores mostram o quanto o Brasil se tornou importante no cenário mundial na oferta de soja e milho.
Porém, um outro país vem chamando a atenção no mercado internacional de grãos, que é a Ucrânia. No triênio de 2000 a 2002, a quantidade média exportada de milho foi de 520 mil toneladas, mas passou para expressivos 18,4 milhões de toneladas no triênio de 2014 a 2016.
O Brasil, segundo maior exportador do cereal, exportou 27,5 milhões de toneladas no mesmo período. Quanto à soja, por outro lado, o volume embarcado pela Ucrânia foi de 2,5 milhões de toneladas no triênio de 2014 a 2016, que é aproximadamente 22 vezes menor que o do Brasil. Mas em 2000/2002 a média exportada pela Ucrânia era de apenas 6,7 mil toneladas.
A forte expansão da produção de milho e soja na Ucrânia se deve à grande entrada de capital estrangeiro, sendo que grupos de investidores e produtores arrendam a terra e introduzem novas máquinas, técnicas de cultivos e cultivares desde o colapso do comunismo.
As justificativas dos estrangeiros em investir na Ucrânia são diversas, tais como: solo fértil, baixo custo de produção, disponibilidade de mão de obra e baixo custo da terra. Essa vantagem competitiva ainda presente na Ucrânia proporciona rentabilidade positiva para as lavouras de milho e soja.
Por exemplo, a rentabilidade média de três safras (2012/13 a 2015/16) sobre o custo total de produção ficou em 17% para soja e em 18% para o milho – no Brasil, 18% para soja e -27% para o milho segunda safra. É grande a importância da logística na competitividade comparada.
A principal região produtora de milho na Ucrânia está de 300 a 600 km distante do porto de exportação (Black Sea), sendo o escoamento via trem. No Brasil, essa distância é de 150 a 2.200 km e a produção é escoada via caminhão.
O Brasil continuará como uns dos principais potenciais produtores de alimentos para o mundo, devido à disponibilidade dos recursos naturais, mas as discussões não podem ficar concentradas na disponibilidade de área agrícola.
Falta avançar a discussão sobre o montante financeiro necessário para tornar as novas fronteiras agrícolas competitivas no agronegócio global.
Incluem-se aí, tratar da questão logística, garantir a posse da propriedade privada, reduzir a burocracia no tempo de registro de novos produtos químicos nos órgãos competentes, diminuir o peso dos cartórios e do estado na transação comercial e outros gargalos que reduzem a competitividade fora da porteira.
Enquanto isso, a exemplo da Ucrânia, há outras terras nos países da Ex-URSS e no leste europeu que ainda preservam a burocracia do modelo socialista, apresentando respostas mais rápidas que o Brasil para os seus problemas internos, tornando-se locais mais atrativos para investimento estrangeiro.
Clique aqui e veja os dados históricos que destacam a importância do agronegócio para a economia brasileira, segundo números do Cepea.
Adaptado de Mauro Osaki, Pesquisador da área de Custos Agrícolas do Cepea – cepea@usp.br
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