O setor caminha sobre um fio de navalha diante dos desafios da geopolítica global, mas ainda assim, há luz no horizonte.
O agronegócio brasileiro é um gigante econômico, responsável por mais de US$82 bilhões em exportações no primeiro semestre de 2025 e peça central da balança comercial do país. Mas esse setor, que alimenta o mundo, não está imune às turbulências do cenário global. Guerras, sanções comerciais, pressões ambientais e embates políticos internos criam um ambiente desafiador, onde cada decisão internacional ou doméstica reverbera nos campos brasileiros.
Isso reforça em como a geopolítica global impacta o setor, explorando desde exigências ambientais da União Europeia até o peso da guerra entre Rússia e Ucrânia, passando pelas tensões políticas no Brasil, incluindo verbas polêmicas para o MST, entraves no crédito rural e as novas responsabilidades climáticas impostas pela COP30 e pelo Plano Clima.
O peso das exigências internacionais: sustentabilidade ou protecionismo?
O mercado global está cada vez mais exigente, e o agronegócio brasileiro sente isso na pele. A União Europeia, um dos principais destinos das exportações brasileiras, apertou o cerco com a Regulamentação contra Desmatamento (EUDR), que provavelmente entrará vigor em dezembro de 2025. A lei exige que produtos como soja, carne, café e cacau sejam livres de desmatamento pós-2020, ameaçando até 34% das exportações para o bloco, com perdas que podem chegar a bilhões de dólares.
Embora adiada em novembro de 2024, a EUDR trouxe conceitos como “áreas sem risco” e reforçou a necessidade de rastreabilidade total, forçando o Brasil a investir pesado em tecnologia e governança territorial. Essas regras são “um desafio monumental” para o setor, que precisará se adaptar sem perder competitividade. Mas há quem veja outro lado. O objetivo não se trata de “salvar o meio ambiente”, mas sim utilizar o pretexto da sustentabilidade, para erguer barreiras protecionistas para favorecer seus próprios produtores.
O Acordo Mercosul-UE, selado em 2024, é outro exemplo. Ele abre portas para o mercado europeu, mas impõe cláusulas ambientais rigorosas que preocupam agricultores, especialmente na Amazônia. O Brasil está numa corrida contra o tempo, com o governo injetando recursos em programas de rastreabilidade para evitar sanções comerciais. Essas exigências não são só burocráticas, elas redesenham as regras do jogo global, desafiando o agro a conciliar produtividade com preservação, mas o problema é que as exigências não vão de encontro com a situação financeira que o setor enfrenta.
Brasil, um jogo político de equilíbrios e conflitos
Dentro de casa, o agronegócio enfrenta um cenário político tão complexo quanto o internacional. Sob o governo Lula, o setor vive um momento de promessas ambiciosas e tensões crescentes. O Plano Safra 2025/2026, anunciado em julho, liberou R$516,2 bilhões para crédito e inovação, o maior da história, mirando uma safra recorde de mais de 1,2 bilhão de toneladas. Além disso, R$12 bilhões foram destinados à renegociação de dívidas rurais, que aliviaria, cerca de 100 mil produtores, a maioria pequenos e médios, atingidos por secas severas no Centro-Oeste.
Mas a propaganda não reflete a realidade, o acesso ao crédito rural está travado por juros altos, que chegam a 40% ao ano, inadimplência crescente e burocracia bancária. A suspensão temporária de financiamentos do Plano Safra 2024/2025, devido a ajustes orçamentários, reduziu em 273 mil o número de contratos assinados, deixando muitos produtores sem recursos para o plantio. Bancos exigem “nome limpo” e análises rigorosas, o que exclui especialmente os pequenos e médios agricultores, essa crise de crédito, somada a desafios climáticos e econômicos, cria o que produtores chamam de “tempestade perfeita”, principalmente quando falamos de produtores do Rio Grande do Sul, que seguem desesperados com essas burocracias impostas.
O MST, “a menina invasora dos olhos” do governo federal
A situação do Agro só se agrava, com decisões políticas controversas. Enquanto produtores sofrem com as burocracias intermináveis, o MST recebeu R$750 milhões em março de 2025, R$400 milhões para compra de alimentos da agricultura familiar e R$350 milhões para infraestrutura em assentamentos, fora os investimentos duvidosos advindos da China. O Programa Terra da Gente entregou 12 mil lotes em 24 estados, totalizando 385 mil hectares, com meta de mais 30 mil até o fim do ano, mas e os títulos de terra, vieram juntos também? Óbvio que não. O apetite do movimento pressiona por mais, querem R$1bilhão em investimentos, e como eles agem para conseguir seu objetivo?
Com mais invasões a propriedades privadas produtivas, áreas de pesquisas e a prédios do Incra, criando uma insegurança jurídica sem fim no campo, enquanto a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) critica o movimento, defendendo projetos de lei que equiparam invasões de terra a atos terroristas, como o PL aprovado com urgência na Câmara em maio de 2025, o governo nega que o MST se enquadre na Lei Antiterrorismo de 2016, assim como eles negam que o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho também sejam grupos terroristas. A verdade é que esses recursos desviam verbas que poderiam reforçar o crédito rural.
COP30 e o Plano Clima, o Agro na vitrine climática
A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, joga ainda mais lenha na fogueira. Os representantes do setor querem usar o evento para mostrar ao mundo suas práticas sustentáveis, pleiteando acesso a financiamentos climáticos globais e métricas que reconheçam as particularidades da agricultura tropical. Mas o Plano Clima 2024-2035, em revisão, impõe ao agro uma fatia significativa da responsabilidade pelas emissões de gases de efeito estufa, com metas de desmatamento zero e realocação de emissões para novos setores, como conservação da natureza.
Críticos, incluindo o próprio Ministério da Agricultura, questionam o plano, alegando que ele pode minar a competitividade do setor, o aumento dos custos operacionais, aliado a possíveis sanções comerciais por descumprimento, ameaça a produção e as exportações. Ambientalistas, por outro lado, defendem o plano como essencial para o equilíbrio climático, enquanto ruralistas temem que o agro vire “bode expiatório” na vitrine global da COP30.
A sombra dos conflitos das Guerras Frias modernas
No front internacional, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que se arrasta desde 2022, continua a abalar o agronegócio brasileiro. Dependente de 20% dos fertilizantes importados da Rússia, o Brasil enfrentou bloqueios logísticos em portos como os da Lituânia, o que elevou os preços dos insumos em até 50%. Em 2025, o conflito redesenha o mercado global de grãos, com o Brasil ganhando espaço como exportador de soja e milho, mas paga caro pela inflação de insumos.
O aumento nos preços de trigo, milho e girassol força o país a buscar novos fornecedores, uma tarefa complicada pelas sanções ocidentais. E a ameaça de um embargo americano à Rússia, pode piorar o cenário, limitando o acesso a fertilizantes e impactando exportações de carne para o mercado russo, um dos dez maiores compradores do Brasil. Apesar disso, a crise abre portas para o Brasil se firmar como “celeiro do mundo”, desde que consiga reduzir sua dependência externa.
Dos desafios da geopolítica global surgem as oportunidades
O setor caminha sobre um fio de navalha diante dos desafios da geopolítica global, mas ainda assim, há luz no horizonte.
O Brasil abriu 250 novos mercados em 2025, e os R$546,6 bilhões anunciados em 2024 para pesquisa agroecológica podem transformar o país em líder de uma agricultura mais verde e na rota da economia verde positiva.
O caminho passa por governança, parcerias público-privadas, rastreabilidade, menos dependência de insumos importados, investimentos em agroindustrialização e um diálogo que equilibre as demandas do agro com as pressões climáticas e sociais. Em um mundo polarizado, o agronegócio é mais que um setor econômico, é uma peça estratégica no xadrez geopolítico. E o recado é claro, precisamos inovar, nos diversificar e principalmente nos posicionar, pois o futuro do campo depende disso.
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