Confira o trabalho de Gustavo Sartorello, que analisou dados de confinamentos e desenvolveu o Modelo de Cálculo de Custo de Produção de Bovinos Confinados.
Antes de falar de custo de produção de bovinos confinados, vamos entender um pouco da importância do confinamento para a pecuária brasileira.
O confinamento de bovinos tem crescido continuamente no Brasil. No início dos anos 80, havia em torno de 50 mil a 100 mil animais confinados ao ano. Atualmente são mais de 3,0 milhões de bovinos confinados, o que ainda representa menos de 10% do total de animais abatidos sob inspeção federal.
Embora esses números possam variar segundo a fonte, o fato é que o confinamento no Brasil cresceu muito nos últimos anos e, como podemos perceber, tem um potencial enorme de crescimento.
E por que o confinamento cresceu tanto? Algumas das razões são:
- ofertar animais para o abate no período de preços mais elevados;
- contornar o período de escassez das forrageiras tropicais;
- liberar áreas de pastagens para outras categorias animais e;
- antecipar a idade de abate, encurtando o ciclo produtivo e retornando o capital investido mais rápido.
Contudo, o confinamento exige investimentos relativamente elevados em máquinas, equipamentos, instalações, bem como de recursos humanos capacitados e da necessidade de capital de giro para compra dos insumos envolvidos na atividade.
Aqui cabe uma questão importante. Como analisar o resultado econômico do confinamento?
Segundo Gustavo Sartorello não existe método definido, havendo risco de que alguns custos possam ser subestimados, ou mesmo desconsiderados. Devido a essa falta de um padrão de análise, os confinadores têm dificuldades de comparar os índices econômicos de diferentes propriedades e entender a definição dos itens de custos que compõem a análise.
Ainda segundo Gustavo Sartolello, quando os confinadores conseguem comparar dados econômicos, encontram dificuldades de compreender as variações de preços e custos ao longo do tempo, devido também à instabilidade das commodities agrícolas utilizadas como insumos e cujos preços sofrem significativas alterações em curtos períodos de tempo.
O trabalho de pesquisa tem por objetivo justamente contribuir para mudar esse cenário de dificuldade de apurar o custo de produção de bovinos confinados. Dessa forma, a pesquisa envolveu dois estudos:
- Estudo 1: desenvolver modelo para cálculo de custo de produção de bovinos de corte em confinamento, a partir da alocação de todos os itens de custo;
- Estudo 2: elaborar o Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados (ICBC) para o acompanhamento da evolução dos custos de produção em confinamentos nos Estados de São Paulo e Goiás.
Para facilitar a leitura, vamos apresentar os resultados obtidos nestes dois estudos: “Estudo 1” e “Estudo 2”, em duas fases. No Farmnews de hoje vamos nos concentrar no Estudo 1 – Desenvolvimento de modelo para cálculo de custo de produção de bovinos terminados em confinamento.
A condução deste estudo ocorreu em unidade confinadora de bovinos localizada no Estado de São Paulo e a coleta de dados foi entre os meses de outubro de 2014 e fevereiro de 2015.
Para conhecer a metodologia de cálculo e maiores detalhes do estudo do Gustavo Sartorelli, entre em contato conosco do Farmnews que teremos o prazer de coloca-lo em contato com o autor.
A Tabela abaixo apresenta os dados médios obtidos nos estudos de caso avaliados durante a pesquisa. Em outras palavras, são dados reais do confinamento avaliado.
Índices Zootécnicos | Variáveis |
Peso inicial (kg) | 360 |
Peso vivo final (kg) | 517 |
Ganho de peso médio diário (kg/dia) | 1,6 |
Dias de alimentação | 100 |
Rendimento de carcaça inicial (%) | 50% |
Rendimento de carcaça final (%) | 56% |
Mortalidade (%) | 0,33% |
Período de mortalidade (dias) | 54 |
Preço do animal magro para engorda (R$/animal) | R$ 1.962,71 |
Preço do animal gordo para venda (R$/@) | R$ 148,69 |
A Tabela a seguir destaca os critérios de custo e os valores obtidos no estudo de caso avaliado.
Itens de custo | Custo por @ | % CT |
Custos variáveis – CV | ||
Aquisição de animais | R$ 101,62 | 65,80% |
Alimentação | R$ 29,39 | 19,03% |
Manejo sanitário | R$ 0,32 | 0,21% |
Manejo de identificação | R$ 0,47 | 0,30% |
Outros custos variáveis | R$ 0,76 | 0,49% |
Impostos variáveis | R$ 4,93 | 3,19% |
Subtotal – Custos variáveis | R$ 137,50 | 89,04% |
Custos semi-fixos – CSF | ||
Energia elétrica | R$ 0,19 | 0,12% |
Telefonia e serviço de internet | R$ 0,01 | 0,01% |
Combustíveis | R$ 0,54 | 0,35% |
Subtotal – Custos semi-fixos | R$ 0,92 | 0,60% |
Custos fixos – CF | ||
Mão-de-obra | R$ 2,28 | 1,48% |
Depreciações | R$ 1,48 | 0,96% |
Manutenção | R$ 1,64 | 1,06% |
Subtotal – Custos fixos | R$ 5,40 | 3,50% |
Custo com a renda dos fatores – CO | ||
Remuneração de capital de giro | R$ 8,21 | 5,32% |
Remuneração de capital fixo | R$ 2,26 | 1,46% |
Remuneração da terra | R$ 0,13 | 0,08% |
Subtotal – Renda dos fatores | R$ 10,61 | 6,87% |
Custo operacional efetivo – COE | R$ 140,70 | 91,11% |
Custo operacional total – COT | R$ 143,83 | 93,14% |
Custo total – CT | R$ 154,43 | 100,00% |
Gustavo Sartorello ressalta a importância em criar um critério de análise de custos e a Tabela desenvolvida na pesquisa apresenta o modelo de estudo econômico dos custos de produção de bovinos confinados.
Com relação aos números obtidos, verifica-se que a maior parcela dos itens de custo foram os relacionados aos custos variáveis, que na condução deste estudo representaram 89,03% dos custos totais. Enquanto os grupos de custos como os semifixos, fixos e de oportunidade, representaram 0,60%, 3,50% e 6,87%, respectivamente.
A remuneração dos fatores de produção – custo de oportunidade – poucas vezes tem sido levada em consideração, pois depende do perfil de quem conduz a atividade ou a análise.
Destaque para o dado de custo operacional efetivo apurado no estudo, de R$140,70 por arroba. Este valor está abaixo do preço médio de venda apresentado na pesquisa, de R$148,69 por arroba. Desse modo, o confinamento, desconsiderando os custos de depreciação e manutenção e remuneração de capital foi positivo. Com margens apertadas, mas, positivo.
Indicadores de importância para o setor produtivo e identificado por este estudo apresentaram os seguintes custos: o custo operacional da atividade por dia foi de R$ 1,98; enquanto o custo da diária-boi foi de R$ 8,91.
É importante lembrar que o objetivo principal é propor um modelo de análise de custo de produção de bovinos confinados e contribuir para que os confinadores avaliem seus dados.
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