Desafios do gerenciamento de riscos na agropecuária!
O Farmnews destaca os desafios do gerenciamento de riscos na agropecuária
Enquanto se busca a intensificação do uso do solo e produzir a custos decrescentes, gerenciar riscos na agropecuária é fundamental.
Em anos recentes, com oscilação da renda, produtores foram à falência ou entraram em recuperação judicial. Essa é a situação, inclusive, de alguns grupos empresariais em que se esperaria um bom uso de ferramentas para gerenciar riscos.
Na produção agrícola brasileira, a busca por diversificação de culturas e uso do solo na segunda safra parece ser o desafio. Mas muitas vezes faltam opções de culturas com liquidez e retornos desejáveis, e incrementar o uso do solo pode elevar os riscos financeiro e econômico.
Vale lembrar que os riscos na agropecuária estão relacionados à produção, aos preços ou ao mercado, a questões financeiras, institucionais e humanas ou pessoal. Entre as estratégias consideradas tradicionais para gerenciar riscos na agropecuária, a primeira a ser citada é a diversificação de culturas e atividades.
A diversificação de culturas contribuiu para a fertilidade do solo, o controle de pragas e doenças e certamente para a menor dependência de apenas um mercado na venda da produção. Para o Brasil, o desafio é a rotação e a sucessão de culturas. Produtores sempre avaliam o sistema produtivo e, neste caso, muitas vezes consideram mais as possibilidades de culturas em sucessão do que a rotação propriamente dita.
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Em termos de sistema produtivo, as principais culturas utilizadas no Brasil quanto à extensão em áreas são soja e milho. Porém, ao se avaliar os retornos financeiros, a cultura do milho em segunda safra mostra baixa rentabilidade, quando não negativa. Ao se considerar os riscos de margens negativas sobre o custo total, a probabilidade é superior a 50%. Por que então se continua produzindo? Certamente há fatores relacionados a questões agronômicas, fluxos de caixa e liquidez na comercialização, entre outros, que influenciam na decisão. Mas, nem tudo está sendo contabilizado!
A diversificação de negócios e a integração vertical também são outros aspectos da estratégia tradicional, visando atuar em mercados distintos e a agregação de valor. Mas isto também não é uma tarefa fácil na agropecuária. No geral, o que se observa é a especialização de negócios, e não a diversificação.
O uso de vendas antecipadas (contratos a termo), mercados futuros e hedge é outro ponto tradicional no gerenciamento de risco. No Brasil, as ferramentas são geralmente implementadas quando da captação de crédito para o cultivo de uma nova safra ou atividade pecuária, mas pouco com o foco de hedge. Assim, contratos a termo e barter (trocas) são as alternativas mais utilizadas. O uso de mercado futuros para hedge acaba ficando em segundo plano.
O seguro agrícola é outra ferramenta de gerenciamento de risco na agropecuária. Para aqueles que captam crédito vinculado ao Plano Agrícola e Pecuário do Governo, há alguns seguros vinculados. Mesmo assim, poucas são as opções no setor privado e, quando disponíveis, são consideradas de alto custo por produtores. O seguro de renda, que deveria ser prioridade, é irrisório sobre a área cultivada no Brasil.
De qualquer forma, a grande variedade de riscos a que a agropecuária está exposta faz com que os negócios enfrentem desafios fora dos conhecimentos climáticos, de doenças, de atritos comerciais e ciclo da cultura e/ou atividade. Embora o desenvolvimento tecnológico disponibilize ferramentas cada vez mais dinâmicas, saber o que integrar e quando também não é tarefa fácil.
O interessante é que, ao longo dos anos, os produtores vão absorvendo e gerenciando os riscos e, felizmente, ajustando suas atividades. Quando se faz avaliação estatística quanto ao posicionamento em fronteira eficiente de produção, na média, o portfólio de produtores leva a pontos ótimos, ou pelo menos indicam a necessidade de poucos ajustamentos. Entretanto, o difícil é mensurar a que custos (qual o sofrimento) chegaram a um ponto considerado de adequado em termos de risco e retorno.
Adaptado de Lucílio Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea.
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