Política

Imposto de importação de alimentos: o foco não é a alíquota zero, é o discurso

A bola da vez do governo foi zerar a alíquota do imposto de importação de alimentos, algo sem efeito prático, mas cercada de discurso que não trata dos problemas reais da economia e do campo!

Novamente, nesses primeiros meses de 2025, o governo federal anunciou uma nova estratégia para combater a inflação dos alimentos, zerando a alíquota de importação para alguns produtos. No entanto, ao analisarmos os impactos reais dessa decisão, fica evidente que a medida pode ter mais efeito no discurso político do que na economia de fato.

Vale lembrar que surgiu também a proposta do governo federal de taxar a exportação de carne bovina com o objetivo de aumentar a oferta no mercado interno e, por consequência, reduzir os preços para o consumidor brasileiro. Clique aqui e saiba mais!

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, sintetiza essa questão ao afirmar que “a produção no Brasil (dos alimentos em que a alíquota de imposto de importação foi zerada) já é muito grande, como café e carnes. Para setores que produzem muito no mercado doméstico, zerar a alíquota de importação é mais uma questão de marketing do que real impacto”. Ou seja, a decisão não altera significativamente a oferta, apenas reforça uma narrativa política de ação contra a alta de preços.

E quando falamos que o discurso se sobrepõe às ações concretas é importante ressaltar também que, infelizmente, essa é uma realidade que temos enfrentado há tempos: ou seja, as críticas negativas ao agro geram engajamento nas redes sociais. Clique aqui e saiba mais!

Essa linha de pensamento é reforçada pelo jornalista e analista econômico Celso Ming, que destaca um ponto central: “o governo não ataca as causas primárias da inflação dos alimentos nem as da menos falada inflação de serviços”. Ou seja, a ação pontual pode até trazer um alívio marginal e de curto prazo, mas não resolve os fatores estruturais que pressionam os preços.

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A economista e professora do Insper, Juliana Inhasz, vai além e explica que “são medidas que podem ser efetivas no curto prazo, trazem um alívio pequeno. Mas não resolvem o problema em si, que são de taxa de câmbio mais alta, pressões que vêm de oferta menor aqui e lá fora. Ou seja, não são medidas que perdurarão muito tempo se não atacarem os problemas em si”. O cenário descrito por Inhasz sugere que a política adotada pelo governo carece de um olhar mais profundo sobre a estrutura do mercado agropecuário e seus determinantes macroeconômicos.

Do ponto de vista da oferta, José Carlos Hausknecht, economista da MB Agro, afirma que “em uma avaliação preliminar, as medidas não terão efeito significativo sobre a oferta de alimentos nos próximos meses. Algumas não vão ter impacto nem no longo prazo”. O mesmo tom é adotado pelo economista Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências, que classifica as ações do governo como “pouco relevantes”.

Diante desse cenário, o economista José Ronaldo Souza Júnior, ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que “o que teria mais impacto para reduzir a inflação de alimentos seria a adoção de medidas efetivas de controle dos gastos públicos, que conteria o crescimento da demanda e ajudaria a valorizar o real”. Esse ponto reforça a ideia de que o problema inflacionário vai muito além da simples importação de alimentos e que as decisões de política fiscal têm papel determinante na contenção dos preços.

Por fim, um dado interessante reforça a tese de que a comunicação tem sido prioridade dentro do governo: ao analisarmos a agenda presidencial, constatamos que o presidente teve mais reuniões com Sidônio Palmeira, chefe da Secretaria de Comunicação, do que com os ministérios da Fazenda e da Saúde. Esse dado evidencia que o governo pode estar mais preocupado com a percepção da opinião pública do que com a efetividade das medidas em si.

O mercado agropecuário, historicamente, já enfrentou diversas tentativas de interferência do governo em sua dinâmica. Zerar a alíquota do imposto de importação de alimentos é mais uma decisão que não trará mudanças substanciais na realidade dos produtores e consumidores. Em um setor onde previsibilidade e estabilidade são essenciais, medidas de efeito limitado acabam apenas reforçando a volatilidade e a incerteza.

O que se vê, portanto, é um governo que prioriza a narrativa sobre a efetividade. Para o produtor rural, o que realmente importa são medidas estruturais que garantam um ambiente econômico mais estável, e não apenas ações paliativas com forte apelo midiático, mas impacto reduzido no dia a dia do setor agropecuário.

O Farmnews também atualizou os dados da variação do preço do boi gordo, dólar e do indicador de inflação (IGP-M) entre o início de 2020 e fevereiro de 2025. Clique aqui e confira!

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Ike Moraes

Especialista em Reputação Digital e Inteligência Política
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