Política

O mito do investimento no agro: quem financia a produção rural no Brasil?

Você sabia que o investimento no agro vem, principalmente, dos próprios produtores e do crédito privado, ao contrário do que muitos possam imaginar?

O agronegócio brasileiro é a força motriz da economia nacional, garantindo o abastecimento interno e sustentando uma balança comercial superavitária que impulsiona o desenvolvimento do País. No entanto, é cada vez mais evidente que há uma narrativa distorcida sobre o apoio governamental ao setor, que precisa ser confrontada de maneira firme e incisiva.

Por trás do discurso de que o agronegócio é amplamente subsidiado pelo Estado, esconde-se uma realidade crua: quem sustenta a produção rural brasileira são os próprios produtores e o crédito privado. A verdade é que o governo contribui muito pouco para um setor que representa quase um quarto do PIB nacional e que mantém o Brasil competitivo no cenário global.

A verdade é que o investimento no agro vem principalmente dos próprios produtores e do crédito privado, mostrando que quem sustenta a produção rural brasileira não é o governo!

Uma agenda equivocada

Os números falam por si: enquanto países desenvolvidos destinam investimentos significativos ao setor agrícola, como Islândia (58%), Noruega (49%), Coreia do Sul (48%) e Japão (37%), o Brasil direciona apenas 3% aos seus produtores rurais, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso coloca o Brasil na última posição entre 20 países analisados, escancarando o abandono do setor por parte do governo.

O custo médio de uma única safra no Brasil gira em torno de R$ 1 trilhão, enquanto o Plano Safra cobre apenas 25% desse valor. O restante é garantido pelo esforço dos próprios agricultores e pelas fontes privadas de financiamento. O mercado de crédito rural movimenta cerca de R$700 bilhões ao ano, dos quais apenas um terço vem de bancos públicos e privados. O grosso do financiamento vem diretamente de produtores capitalizados e da indústria de insumos.

Desafios do financiamento privado

De acordo com a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV), 40,0% do financiamento do agro no Brasil provêm de fornecedores de insumos, enquanto míseros 7,0% são oriundos de bancos públicos. Para suprir essa lacuna, os produtores recorrem a instrumentos de mercado como a Cédula de Produtor Rural (CPR), as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), os Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros).

Enquanto os produtores se desdobram para manter o setor funcionando, enfrentam também os juros exorbitantes que variam de 25% a 35% ao ano. Essa realidade de financiamento oneroso compromete a competitividade e a sustentabilidade da produção agrícola nacional. Além disso, práticas abusivas como a venda casada impõem uma pressão desleal sobre quem já está sobrecarregado por exigências financeiras.

O preço da negligência política

O enfraquecimento das políticas de crédito rural é um exemplo claro da falta de compromisso com o setor. O Plano Safra, que deveria ser o principal motor de financiamento estatal, está cada vez mais sucateado. Em 2024, apenas 36,4% do total programado para o ciclo foram efetivamente liberados, com uma queda de 25,0% em relação ao ano anterior.

Ao invés de avançar, as políticas públicas recuam e perpetuam um cenário de insegurança financeira para os produtores rurais. Uma pesquisa realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) revelou que 38,0% dos produtores nunca contrataram crédito rural, e apenas 26,6% conseguiram obter financiamento em 2020. Os entraves são inúmeros: burocracia excessiva, garantias incompatíveis com a realidade do campo, demora na liberação dos recursos e uma rigidez desproporcional na análise da capacidade de endividamento.

É preciso agir!

Se o Brasil quer manter sua competitividade global e consolidar sua posição como potência agrícola, é urgente romper com o discurso vazio de que o setor é amplamente apoiado pelo governo. O investimento estatal no agro precisa ser uma política de Estado, não um discurso de campanha.

Os produtores rurais já mostraram sua capacidade de resistência e adaptação, mas até quando suportarão carregar sozinhos o peso de um setor que move a economia do país? Está na hora de uma reforma estrutural nas políticas de financiamento agrícola, com menos burocracia, mais transparência e condições financeiras adequadas para quem produz. O agro brasileiro é forte, mas não pode continuar sendo forte *apesar do governo*. É preciso mudar o rumo e fortalecer verdadeiramente quem faz a economia girar.

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Ike Moraes

Especialista em Reputação Digital e Inteligência Política
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