O que está por trás da investigação dos EUA contra o Brasil e, por que o pecuarista deve se preocupar?
O pecuarista brasileiro já vinha enfrentando um cenário desafiador. Os custos de produção aumentaram, a arroba perdeu força em diversas regiões, e o chamado “tarifaço” — impulsionado por medidas do governo que elevaram tributos sobre insumos, defensivos e equipamentos — acendeu um alerta em todo o setor. Agora, uma nova preocupação entra no radar: a investigação anunciada pelos Estados Unidos sobre práticas comerciais brasileiras, com potencial para resultar em sanções e restrições às exportações do agro.
Nesse contexto, é importante ressaltar que além da queda no mercado físico, o mercado futuro do boi gordo renovou a mínima em julho (16), com o contrato para novembro inclusive precificando queda frente ao valor médio observado no mesmo período do ano anterior (clique aqui). Esperar que o preço em 2025 fique abaixo de 2024 é algo que parecia muito distante, já que na primeira metade de 2025 o preço médio do boi gordo foi cerca de 35,0% acima do valor observado no mesmo período de 2024 (clique aqui).
Claro, o mercado futuro, ao nosso entender, está exagerando na queda, mas o cenário de fato é desafiador e o momento de insegurança e incerteza ajuda a aumentar a pressão negativa nos preços.
O fato é que o Brasil foi incluído em uma lista de investigação da USTR (United States Trade Representative), órgão americano responsável pela política de comércio exterior. A lista envolve países suspeitos de adotarem práticas consideradas desleais ou que distorcem o comércio global, com destaque para subsídios públicos e políticas industriais em áreas como agricultura, minerais e metais.
Embora o governo brasileiro ainda não tenha se manifestado com clareza sobre o tema, a dimensão do risco é relevante — e merece atenção imediata do setor pecuário.
O que está em jogo?
A entrada do Brasil nessa lista é o primeiro passo para medidas mais duras dos EUA, como:
- Imposição de tarifas adicionais sobre produtos exportados;
- Criação de barreiras não tarifárias (sanitárias, ambientais, etc.);
- Revisão de acordos comerciais ou pressões diplomáticas em fóruns multilaterais.
Na prática, isso pode afetar cadeias como a da carne bovina, que tem nos Estados Unidos um importante comprador — principalmente após a reabertura do mercado norte-americano em 2020. Mesmo que o volume exportado para os EUA ainda não seja tão expressivo quanto para China ou Hong Kong, o efeito simbólico e estratégico é poderoso: se os EUA impõem barreiras, outros mercados tendem a seguir o mesmo caminho.
Pecuarista no aperto: tarifa interna + risco externo
O cenário é preocupante porque o produtor já está pressionado internamente. A alta de impostos, o encarecimento do crédito, o aumento no preço de ração e medicamentos, e a instabilidade na demanda interna formam um contexto delicado.
Somado a isso, o risco de perder competitividade nas exportações fecha o cerco sobre a rentabilidade do setor, especialmente nas regiões que dependem da venda externa para escoar a produção e sustentar preços mínimos.
Oportunismo dos concorrentes
Em meio ao vácuo brasileiro, concorrentes como Estados Unidos, Austrália e Argentina estão se movimentando rapidamente para ocupar espaço nos mercados internacionais, oferecendo carne com rastreabilidade, apelo ambiental e forte articulação diplomática.
Se o Brasil não agir com estratégia, pode ser deixado para trás. E não se trata apenas de política externa: a reputação do país como fornecedor confiável também está em jogo — algo que tem peso real na mesa de negociações globais.
O que o setor deve cobrar agora?
Mais do que lamentos, o momento exige ação coordenada. Algumas medidas urgentes são:
- Resposta diplomática clara do governo brasileiro sobre a investigação americana;
- Atuação proativa do Itamaraty, do Mapa e da Apex para defender os interesses do agro nos fóruns internacionais;
- Reforço da imagem da pecuária brasileira com dados, rastreabilidade e sustentabilidade;
- Pressão para revisão do tarifaço interno, que compromete a competitividade do setor.
O risco externo trazido pela investigação dos EUA ao Brasil não é abstrato. Ele se soma, de forma concreta, a um ambiente interno já carregado de incertezas e custos elevados. Para o pecuarista, é mais um lembrete de que a defesa do setor não é apenas técnica ou produtiva, mas também estratégica e política.
O Brasil precisa cuidar de sua imagem, negociar com firmeza e evitar que o campo pague a conta — de novo.
Vale lembrar que o Farmnews apresentou dados que mostram a importância dos EUA para o agro brasileiro. Vale destacar que além de um importante mercado consumidor de produtos do agro brasileiro, especialmente de produtos florestais, café, carne bovina, sucos como destacamos (clique aqui), os EUA igualmente vendem insumos agrícolas para o Brasil, como fertilizantes (clique aqui).
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